Senti sua Falta

 O ato de digitar já havia se tornado habitual pra mim, o toque nas teclas e as palavras aparecendo na tela eram uma sensação conhecida. As noites pareciam pequenas quando me via escrevendo sem parar por horas e horas. 

Mas uma noite tudo mudou. 

O sangue que corria nas minhas veias já sincronizado com a melodia da musica que tocava no fone de ouvido me deixava completamente dormente. Eu não percebia mais nada ao redor, o único som que ecoava no quarto era o das teclas do computador. Mas esse som foi interrompido subitamente pelo barulho de notificação do celular, provavelmente alguma promoção ou anúncio de algum site que havia me cadastrado dias atrás. Estranhamente às 3:27 da manhã alguém havia me mandado uma mensagem. 

O brilho do celular, no mínimo para não gastar bateria, deixou a mensagem mais difícil de ler, mas quando consegui, a música se tornou irrelevante e eu já não conseguia saber o que estava realmente escutando naquele momento. Um número fora do padrão e uma figura macabra identificavam o remetente. 

“Estou indo te buscar”

Dei uma risada tosca e me neguei a responder àquilo, provavelmente alguém estava tentando me assustar ou fazer uma pegadinha, mas ainda suava frio enquanto checava todas as portas e janelas. Lá fora a rua, normalmente vazia, revelava alguém de pé no meio da neblina espessa, e então, o breu.


 

       Todas as luzes se apagaram e eu me vi num completo limbo, minha noção de direção se foi completamente e eu já não sabia onde estava. Tirei o celular do bolso e a luz da tela iluminou meu rosto pálido e aterrorizado. “Estou indo te buscar”, a mensagem ecoava na minha cabeça quando ouvi a madeira do assoalho do corredor ranger, exatamente como rangia quando alguém andava por ali. A maçaneta foi forçada mas eu tinha certeza que a porta estava trancada, minha mente apavorada tentava encontrar alguma explicação para aquilo, mas não conseguia encontrar nenhum. Meus pensamentos foram interrompidos por batidas na janela do meu quarto, corri para a porta mas nesse momento percebi que ela já havia sido aberta. No fim do corredor, a figura sinistra do celular olhava fixamente pra mim com um sorriso de uma ponta a outra do rosto deformado por cortes abertos. Tranquei a porta e coloquei todas as trancas possíveis, mas as luzes continuavam apagadas e o ar gelado vindo do corredor batia em meu rosto como se eu estivesse no meio da rua de madrugada.

Então as batidas. Cada vez mais fortes na porta e na janela, que a qualquer momento cederiam, meu coração disparado e meu suor ainda frio, rezei novamente pra que fosse um pesadelo e, então, um silêncio súbito.

O celular toca e a mesma figura do corredor aparece na tela. Recuso a ligação mas não adianta mais. A última coisa que escuto antes de sentir o abraço gelado vindo das minhas costas são sussurros no meu ouvido dizendo: 

“Senti sua Falta”

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