A Síndrome Tinkles

        Os passos sincronizados e precisos nunca pisaram onde não deveriam enquanto andava, a precisão era uma coisa sagrada para ele, parecia ligado às suas entranhas, qualquer um que lhe visse diria o mesmo: é um ser preciso.

Ele senta no sofá e vê uma mulher do outro lado do cômodo que lhe fala algo incompreensível, para ele, irrelevante, pois volta a prestar atenção no que estava fazendo e a ignora completamente. Os dias entre as paredes brancas daquela casa lhe pareciam eternos mesmo com todas as coisas pra se entreter. nada parecia satisfazer a vontade que ele tinha de estrangular todo ser que respirasse naquele ambiente, principalmente o seu companheiro de quarto.

Aquele ser vivia sorrindo e se submetendo a situações ridículas por desejar aprovação, o que ele jamais faria, só se relacionava com pessoas por necessidade. nunca gostou de atenção quando não lhe era conveniente, nunca pediu ajuda, ele sabia que era capaz de resolver qualquer problema sozinho. 

A chuva que caía lá fora era como um analgésico pra sua alma, seus pensamentos se concentravam em descobrir como todas as coisas se conectam e o sentido de tudo isso, ele não queria companhia, a ideia de compartilhar isso com alguém era abominante para ele, ninguém era digno de pensar tal coisa. Eram seres inferiores, nascidos com o único propósito de lhe servir quando era necessário. 

Todas as suas ferramentas de trabalho eram guardadas em lugares estratégicos para um possível uso mais tarde, mas ele sempre perdia a cabeça quando alguém tirava alguma coisa do lugar, ninguém entendia que a arte não tem uma forma específica e, para ele, eram todos imbecis ignorantes.

Sempre foi muito limpo e prezava por higiene mais que qualquer coisa em sua vida, sempre estava limpando as mãos e checando como estava seu cheiro, enquanto observava com nojo o colega de quarto, que sempre estava fazendo coisas sem sentido e se sujando, parecia não ter o mínimo de noção quando tentava fazer algum contato. As coisas seriam bem melhores sem o colega por aqui, ele pensou. Mas as regras não foram feitas por ele então ele tinha que aguentar isso por mais tempo do que gostaria.

Passava seus dias andando pela casa pensando em maneiras mais eficientes de eliminar os empecilhos que atrapalhavam sua vida tranquila. Mas, de repente, um som. Aquele barulho metálico é como um canto de sereias para ele e suas pupilas dilatam pois ele sabe o que está por vir, e as últimas palavras que ele escuta antes de se deliciar com as iguarias do jantar são:

“Esse gato maldito só come e dorme”


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